Uma visão saborosa...

Era chegado o fim da tarde, o ambiente era costeiro, mesmo por cima do mar. Olhei as ondas, ao longe, mas senti o seu cheiro de perto. O céu, estava vestido, com um estranho e diferente azul nívea e ornamentado por um sol amarelo pálido e pouco quente. Estava uma brisa marítima bem fresca, para a hora do dia. Pedi um chocolate quente, e fiquei impávido e sereno a admirar a praia.
Um jovem e giro casal ao longe, eram as únicas vivalmas que por ali se viam. Dentro do café apesar de tudo, o calor humano estava mais presente, mas muito tranquilo e relaxante também. O chocolate chegou, fumegante, espesso, castanho bem escuro, brilhante, e com aquele aroma a cacau inconfundível. As mãos foram as primeiras a agradecer, a bonita chávena branca decorada com motivos balneares parecia um radiador de tanto calor acumulado. O primeiro gole…hum…, sim, era um belo chocolate quente, o cacau na proporção certa, a consistência entre, o comer à colher, e o aguado, e um leve travo a canela no final…hum, fantástico. Pelo vidro embaciado, via agora alguém que passeava os seus dois cães, admirei-lhe o espírito, calças de ganga e um pequeno corta-vento, era tudo quanto bastava para a pequena jovem se andar a passear, alegremente, pelo gélido areal. Os canitos saltitavam de alegria, e abanavam freneticamente os rabos em sinal de contentamento, enquanto a dona corria para trás e para a frente, lançando ao vento os lindos cabelos escuros que tinha, como que a incitá-los para a brincadeira. O seu sorriso ficou-me registrado, era rasgado, absolutamente genuíno, imensamente espontâneo e descontraído. Mais um gole, uma pessoa que entra, outra que sai, uma que diz boa tarde, outra que não foi, mas já vai, o fim de tarde já lá ia, a noite agora era rainha. Olhei para a caneca vazia, e de guloso pensei, que outra mal não faria, mas também não arrisquei, olhei em volta, o espaço estava agora mais amplo, o frio conquistara por completo todo o território, e lá fora também já não estava, a rapariga gira e descontraída, com os seus alegres companheiros.
Peguei na minha máquina fotográfica, paguei a conta e sai, sai a pé, e assim por ali fui, andando, rumo a outro qualquer lugar, onde o calor humano fosse mais presente e o chocolate, talvez ainda um pouco mais consistente…

"Sorrindo e caminhando, a vida, vamos levando..."