Doce madrugada de chuva...

Estávamos no meio da madrugada, o tempo lá fora estava absurdamente chuvoso, o meu grande cachorro tremia com os trovões, enquanto energicamente arranhava a porta do meu quarto. Abri-lhe a porta, e deixei-o entrar. O forte aroma a cão molhado, invadiu por completo o meu reduto, mas ele estava mais tranquilo, mais sereno, mais seguro.
Era tão bom, que na vida tudo fosse assim, todas estas coisas, estes sentimentos, estivesse para lá de uma porta, que apenas teríamos de arranhar…
O temporal agravou-se, a luz desligou-se, não conseguia dormir.
A chuva estava feroz, e eu, de pijama vestido, senti uma necessidade enorme não só de ouvir, como ver e sentir a chuva. Descalço, avancei sem medo, perante o olhar incrédulo do meu cão, que com as orelhas a cobrirem os enormes olhos, me parecia estar a dizer, “nem quero ver”.
As sensações de frescura, de liberdade, de libertação, foram surpreendentemente imediatas.
No ar andava aquele vento abafado, próprio de uma noite de Junho, o chão quase que secava ao ritmo das pingas, e como pingava….e pingava…e pingava.
O céu, negro não tinha concorrência para as suas estrelas em termos de iluminação. Olhando as colinas em redor, nem uma luz, nem um sinal, apenas um enorme e absorvente escuro.
Fez-se luz.
Sem sono e molhado, peguei numa pequena toalha para secar, os litros, e litros de agua, infiltrados em todos os micro poros do meu pijama, estes pareciam ser o reflexo de todos os vazio deixados vagos pelos pensamentos lavados e levados, pela chuva.
Estava mais leve, muito mais leve, apesar de ensopado.
Sentado ao computador, naveguei por entre comentários de amigos, pensamentos de pessoas queridas, historias e estórias de pequenos navegadores como eu, que vão saboreando as pequenas e absorventes correntes da maré da vida. Parei num especificamente, alguém que falava com um tal conforto, com um tal carinho, com uma tal doçura, que não resisti a ler uma e outra vez. Aquele texto era, o mais sincero reflexo de alguém feliz, numa chuvosa noite de Junho. Com um sorriso me levantei, com o riso me deitei e com um grito acordei meia hora depois com o despertador a anunciar a alvorada…
Perdi a noite de sono, mas ganhei uma noite de vida…

Comentários

Unknown disse…
Quando a felicidade de outrém nos emociona, quando a ternura e o conforto são aquilo com que ofertamos quem gostamos, quando abrimos a porta e caminhamos à chuva, será que não estamos no limiar do avesso das coisas, não estaremos na pontinha da costura prestes a virar o tecido que nos une os fios da vida e a tentar vê-los mais de perto? :)

Um bater de asa doce meu amigo
Mei

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