As "emoções" nos fios...


A marioneta, que virou marionetista…

Já vai longe a estrada, cuja paragem, fez Sissi entrar numa viagem sem retorno, a viagem de entrada no mundo das marionetas.
Sissi era uma jovem, alegre, empreendedora, com uma força de vida bastante acima da média. Um dia, quando vagueava pelos seus delírios retóricos, foi surpreendida por um marionetista. Este dissertou sobre os mais variados temas, encantou com as mais ambiciosas propostas e por fim, com mais ou menos esforço, fez aquilo que queria, atou a Sissi os vários fios necessários para comandar uma marioneta e mandou-a seguir a vida assim. Reconheça-se o engenho e a arte de quem tão bem pilota os fios das marionetas da vida, o acto foi tão exímio, que Sissi ficou convencida que a escolha tinha sido dela e que a qualquer momento poderia cortar as cordas com a tesoura que lhe tinha sido oferecida…
A vida continuou, Sissi com fios, mantinha-se igual a ela própria, nas maneiras, nos modos, no brilho, mas o resto….o resto, mais não era do que os fios, emoções que passavam pelos fios, emoções criadas por alguém que ganhava a vida a comandar Sissi. Nesta altura, Sissi poderia ter sido salva, mesmo ela achando que não havia necessidade disso, mas ninguém fez nada, ficaram todos impávidos e serenos, sentadinhos nos seus lugares de camarote a assistir, ao seu declínio como mulher livre e independente e a sua ascensão como marioneta de sucesso…
Sissi não se salvou…e um dia, conheceu Lia, e a história tomou outros contornos, mais perversos.

Lia, era uma moça bonitinha, cheia de amor, sensível, pura e inocente, uma grande pessoa em potencia, que encontrava pela frente uma marioneta da velha guarda,
Sissi.
A Marioneta telecomandada, rapidamente recrutou Lia, mostrou-lhe a vida pelos olhos dos fios, fez com que Lia passa-se pelas maiores provações, para no fim lhe estender a mão e lhe dar os concelhos que a transformariam, sem esta saber, na sua marioneta. Sissi era feliz, tinha a sua própria marioneta, mas nem por isso estava consciente que ela própria era comandada por alguém. Os anos passaram, e eu, tal como os outros que criticara, nada fiz.

O dia lá fora escureceu, e no meio da escuridão, relembrei o sorriso de Lia, a doce Lia de outrora, peguei no telefone e liguei-lhe, do lado de lá estava um “gravador”, que me respondia a tudo o que lhe perguntava, do lado de lá estava uma marioneta que entretia tudo e todos, menos os que conheciam a sua origem…pousei o telefone, deixei cair algumas lágrimas e gritei bem alto enquanto fitava ao fundo uma reluzente tesoura, desculpa…desculpa…desculpa…

Comentários

Amorphico disse…
Em todo o momento posso Ver que os fios estão lá - e que, talvez eu tenha ajudado a atá-los.
Ao Ver onde as pontas desses fios estão em mim, talvez possa pegar nelas e desatá-las do meu lado, se realmente o quiser.
Acredito que todos temos essas possibilidades.
Olavo disse…
Será? Será esse autocontrolo tão simples? Será que temos sempre a noção onde estamos, como somos, para onde vamos? Será que não há uma altura que nos perdemos? Os fios podem ser muita coisa, aqui é algo concreto, mas podemos extrapolar para muitas outras situaões. Eu tenho a profunda convicção que é possivel, quebrar os fios, simplesmente acho que na maior parte dos casos a força de vontade necessaria é tão herculea que as pessoas acabam mesmo por se ficar pelas intenções...mas isto sou eu a dizer...
Sorrindo e caminhando, a vida vamos levando.
Unknown disse…
Fios, laços, contiguidades... o que nos prende o que nos liberta o que nos tece no passar dos dias.

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