Passageiros não desejados...

Estava sentado na estação, sossegado, tranquilo, há muito que não estava assim, longe iam os tempos das correrias desenfreadas e apaixonadas atrás dos comboios ditos especiais, ditos fantásticos, ditos interessantes…
Ao longe um barulho diferente, levantei por instantes os olhos do livro que desfolhava, e lá estava ele, um comboio surpreendente, um comboio magnifico. Sabendo de ante mão que não o conseguiria apanhar, voltei ao meu livro e deixei-me ficar.
Uma e outra vez, o vi passar, com o seu sorriso levemente convencido de ser um fantástico comboio…neste caso, o sorriso estava bem aplicado, nunca tinha visto nada assim, era o som, as cores, o cuidado dado aos detalhes, o perfeccionismo empregue no aprumar da imagem, o próprio cheiro, este comboio vai longe, pensei para mim.
Mais uma vez, deixei-me ficar, voltando para o meu mundo de sonhos e fantasias, presente na janela de um livro.

O dia tinha acordado fresco, o céu vestia de azul e as andorinhas andavam em voos inacreditáveis, logo pela manha. A leve brisa do vento, compunha musica, há passagem pelos finos e despidos troncos de árvore. Estávamos no Verão, mas ninguém diria…
Fui até ao meu ponto de leitura habitual, sentei-me, deixei-me novamente transportar para o mundo dos sonhos presente em mais um universo paralelo de um livro, mas eis se não quando ao fundo oiço um ruído, um ruído compassado mas firme, despretensioso mas consistente, lá vinha ele, pensei para mim. Levantei-me num impulso, e corri, corri, corri, ele passou por mim, e nem me viu…nesse dia, prometi para mim mesmo, que não voltaria a correr atrás de um comboio, outra vez…mas isso não aconteceu…uma e outra vez, corri e não entrei…

Até que um dia, um lindo comboio amarelo aproximou-se a grande velocidade da “minha” estação, mas eu não corri, nem tão pouco me levantei, apenas levantei um olho, e no momento que o avistei, esbocei-lhe sorriso…nesse dia, por estranho que pareça, aquele comboio parou.
Olhei para ele espantado, questionei-me o porque da sua paragem, foi então que ele me segredou ao ouvido, “gostei do teu sorriso”…”entra, e prepara-te para a viagem da tua vida…”