"Cristalina filigrana luminescente..."



Está escuro, completamente e absurdamente escuro, grito, esbracejo, nada, nem um sinal, nem um som, nem uma voz, nem um sussurro, nem nada.
Está escuro, não oiço ninguém, apenas o barulho ininterrupto e compassado do velho relógio de cabeceira, que ali jaz prostrado bafiento e cheio de pó a espera do dia que lhe passarei o merecido pano por cima.
Está escuro, mesmo com paredes cobertas por espessa tinta branca, não vislumbro nem a mais pálida ou ténue sombra, nem o mais indelével e translúcido vulto.
Fechei os olhos, e continuou escuro, frio, vazio, oco, doloroso, triste…Assim adormeci.

É manha, o sol bate, com força nas venezianas a pedir com peito cheio, para entrar, abri de uma só vez as portadas e deixei que ele transformasse a escuridão envolvente, em cristalina filigrana luminescente.
O escuro agora, só permanece cá dentro, invadindo-me as concavidades, entupindo-me os poros…estou cheio, mas continuo vazio.

Pego no telefone, e do lado de lá alguém atende…olá.

Está escuro, absolutamente escuro, mas ao fundo vejo uma pequena luz de cristalina filigrana luminescente…

Comentários

Unknown disse…
Como as ondas do mar que vão e vêm
pela atracção da Lua
outras ondas se alteiam, atraídas
por outras luas, satélites do rosto.
Enquanto umas de amor cobrem as praias
e as penetram de espuma
estas não amam, não molham, não se esgotam.

Mudam de cor, apenas.

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