"Estamos em mundos perpendiculares..."


Fitas o mar com a delícia de quem o vê pela primeira vez, finges ouvir as ondas ao largo e sorris com vontade, estranha essa tua forma de entrar em mundos irreais e ao mesmo tempo reflectir sensações tão límpidas e claras.

A forma como me delicias sempre que sorris, será das coisas que com maior dificuldade esquecerei.

Ao largo vejo um barco que parte, deixando para trás tudo e todos, mas parte com uma missão, conhecer novas paragens, agitar novos mundos, conhecer e beber novas vivências.

Estamos em mundos perpendiculares, mas tive a sorte de ver, o meu mundo interceptar o teu, de ter sentido o teu cheiro, de ter cheirado o teu calor, de ter amado o teu sorriso, de ter olhado a tua pele, de ter tocado a tua doçura, temos mundos muito diferentes, mas isso não me faz gostar menos de ti.

É chegada a hora, não de te ver partir, mas de partir eu, em busca de novas gentes, novos cheiros, novas almas, novos sorrisos.

A luz luminescente e translúcida, que deixas transparecer, é a tua melhor característica, mesmo que nela resida a tua maior fraqueza…não deixes que tirem as coisas que fazem de ti tão especial, não deixes que te transformem ao ponto de tu própria não te reconheceres, não deixes de gostar de ti como eu gosto, não deixes que te maltratem mesmo quando achas que merecer, não deixes, não deixes…

Este não será um adeus, até porque isso não seria jamais capaz de te dizer, será apenas um até já, que se estenderá no tempo até ao infinito…

Comentários

Unknown disse…
Meu amigo, meu bom e doce amigo, todos temos partidas e chegadas nas nossas vidas, talvez por isso o meu primeiro livro se chame “Cais de Embarque”, mas toda a minha vida, a nossa vida, podia ter esse nome. Todas as vidas são intersecções, perpendiculares, confluências, não há sobreposições nem na história dos amantes. Essas viagens, essas descobertas, esse caminho que inventamos e nos reinventa, não tem de distanciar-nos, mas se essa for a tua escolha, então que saibas que não é a minha e que estarei sempre aqui a ver-te crescer, mudar de pele e a sorrir quando souber das tuas conquistas, eu recuso-me a ir embora porque amizade é este pacto insolúvel.
Sabes, há não muito tempo, no meu aniversário a minha irmã ofereceu-me um vestido. Não era novo, nem tinha nada de extraordinário para qualquer pessoa que o vislumbrasse, talvez apenas invulgarmente colorido, mas significava para mim o começo de quem hoje sou. Vi-o ser comprado, ajustado e não era meu, mas havia nele alguma coisa que me fascinava. Um dia ela emprestou-mo para uma festa, curiosamente de passagem de ano, e eu só o vesti naquela noite, mas era como se toda a minha superfície tivesse cristalizado, rachado e caído, estilhaçada em mil pedaços. Não foi obviamente o vestido que me mudou, mas sim a imagem que eu tinha de mim e do mundo e do que eu queria para ambos. Contudo, quando ela mo ofereceu eu recusei. Porquê? Por medo, por achar que não estaria à altura, por mil motivos, mas nenhum suficiente válido para se recusar um gesto de amor, uma dádiva generosa... Podia dizer-te que me arrependo, mentia-te. Não me arrependo porque nessa recusa eu aprendi mais sobre mim e ela do que eu poderia alguma vez ter aprendido, aprendi que não quero repetir essa recusa, mas sobretudo aprendi que se me faltar força e recusar ela não mo deixará fazer, porque a amizade, o amor é estar sempre lá, como a mão do afinador de pianos ausente durante o concerto, mas embebida nas próprias cordas. Por onde quer que seja a tua viagem, o teu caminho e as tuas audazes e venturosas descobertas, quando voltares eu estarei aqui porque o que me deste é precioso como esse vestido pendurado no meu armário e que passa despercebido a todos os olhares menos ao meu.

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