O regresso da alma emprestada…


Mar, o profundo e surpreendentemente hipnótico mar azul.
Local de partida, local de regresso, a tranquilidade aparente e real que dele exala, que dele nasce. O cheiro que dele emana, o sabor a sal multicolor que nele sentimos, a ausência de ruído, enfim…tranquilidade no seu estado mais puro.

Hoje é o dia, o dia eleito por mim, o dia que regresso ao mar, ao meu mar, a minha tranquilidade, ao meu azul pleno de fantasias, envoltas em cores suaves, em tons só possíveis na paleta de experiente e virtuoso pintor.

Hoje é o dia, o dia que entendo ter atingido o que de bom havia para atingir, o que de mau havia para absorver e aprender, o que de doce havia para provar e degustar, é altura certa para voltar a mergulhar na minha tranquilidade perfeita, no meu mundo previsível, controlado e silencioso.

É certo e sabido, que de quando em vez, há que respirar, encher os pulmões de ar, de civilização, de pessoas, de cheiros, de outras cores, outros desejos…mas a hora de regressar chegou, não há mais reservas para disponibilizar a esta civilização absorvente, que nos sorve até ao mais ínfimo.
O que me restava do meu doce e tranquilo mar azul, foi vertido ininterruptamente nos últimos tempos, nos principais momentos…

De facto, cada um deve estar no meio a que se habituou, onde se sente bem, onde está confortável. E por muito que tenha buscado o conforto entre os homens, e busquei, busco agora a tranquilidade entre os peixes, no seu profundo silencio azul.

Avanço para o mar sem olhar para trás, o corpo que me segurou aqui, fica em plena praia, de olhos lacrimejantes, enquanto me vê partir. Faz-me mais uma vez sentir especial, faz-me sentir parte dele, mas eu sou apenas uma alma que habita as profundezas dos oceanos, com anos de experiência na profundidade, mas que nada sei sobre este mundo, quiçá cruel, em que os homens se movimentam.
Foi ele que me recebeu, naquele frio dia de Inverno, foi ele que me absorveu, quando ninguém me via, foi com ele que me senti real…

No último momento, como que de relance, olhei para ele, já com as lágrimas enxutas e de braço no ar a acenar um doce adeus e percebi. Finalmente também ele havia compreendido, que o que tinha a aprender comigo estava terminado…
No instante seguinte mergulhei.

A ultima coisa que lhe disse, enquanto me vi desaparecer no profundo oceano, foi que, se precisares de mim, podes escutar-me num qualquer búzio que te pareça perdido numa qualquer praia deserta, lembra-te daquele percurso que buscaste desde sempre para atingires a tranquilidade…agora tens mais um motivo para visitar o mar…até sempre.

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