O sapo que se apaixonou pela Lua...

Mais um dia que passava lentamente, mais uma caminhada vagarosa com destino fixo... O pequeno sapo, saltitando avenida abaixo, e entre a arruaça dos carros, lá ia rumo ao areal da pequena praia da Falésia.
O Outono, bem vincado num céu que se pintara de castanho, um castanho assado em fogareiro de carvão, e a chuva que caia copiosamente sem parar, como que querendo lavar em definitivo o ar, a terra, ou simplesmente para ajudar a disfarçar as lágrimas, que o pobre sapo deixava correr dos seus esbugalhados olhos, marcavam a jornada.
Chegado ao seu destino, e sentado sobre o areal, o petiz enchia as mãos de finos grão de areia, apertando-os com todo o vigor que ainda lhe restava na pequena alma, e fitando o mar bravio, que anunciava mau tempo no canal, com a confiança de um guerreiro, ficava espectante por algo maior…
As gaivotas em terra, circundavam-no intrigadas e de sobrolho levantado, visto que ele era o único ser sem asas, sobre aquele infindável e molhado areal…
Com o passar do tempo, das horas, dos minutos, dos compromissos assumidos que haviam sido esquecidos, a noite foi chegando lentamente, estendendo o seu negro e delicado manto, sobre a fina película de água que pairava ainda no ar.
O céu clareou, e a tão aguardada lua, bonita, brilhante e viçosa, voltava a colorir com a sua delicadeza, o negro manto…
Com a emoção pendurada nos olhos, e de joelhos cravados na compacta e molhada areia, o jovem sapo, falava para a lua, com a voz da sua alma, com o timbre do seu amor, com a força da sua vida.
Nesta, como noutras noites, o dia voltou, e a lua partiu, deixando sobre a areia fina, um pobre sapo, que resposta, nunca ouviu…
Noite após noite, o processo repetiu-se, mudando o céu, o estado do mar, e o comportamento cada vez mais social das gaivotas...
Um dia, a gaivota mais anciã, já ambientada com a presença do batráquio prostrado novamente de joelhos e voltado para a lua, abeirou-se dele e disse-lhe sussurrando-lhe ao ouvido, “não adianta gritares, não adiante agitares os braços, esbracejares ou mesmo chorares…Ela ouve-te, mas não te escuta, ela ouve-te mas não te entende, ela ouve-te mas não fala a mesma língua que tu.”
De queixo caído, desiludido, e de olhar meio gélido, nessa noite o pequeno sapo regressou mais cedo para casa, deixando para trás a brilhante e maravilhosa lua.
No canto mais escuro do seu quarto pensou, pensou, pensou, levou a noite inteira a pensar, com as lágrimas a dançarem nos seus grande olhos, longe do olhar brilhante da sua amada…
As horas voaram, os minutos tornaram-se invisíveis, e os segundos desconhecidos do velho relógio de pêndulo.
Com a manhã a bater furiosamente à porta, e o raiar do dia a despertar pedindo licença para entrar, o pequeno sapo, encheu os pulmões de coragem, abriu a porta do seu quarto, subiu no pequeno escadote até ao ponto mais alto da sua casa, e sobre a chaminé disse voltando-se para a Lua “Psst, Psst, linda lua que estás no céu, eu sei que não entendes as minhas palavras, que não apreendes as minhas preces, que não absorves a minha voz, mas peço-te que por uns segundos, uns breves e dispensáveis segundos, intuas os meus sentimentos. Tu és no céu uma rainha de branco vestida, dominas o negro espaço como ninguém, movimentas-te com a graciosidade de um vestido de seda estreado no próprio dia. És tranquilamente delicada, docemente brilhante, sabes sempre o que queres da vida e da tua existência, e eu amo-te por tudo isso...
Sei que no céu nada ouves, ou sentes das palavras que te envio, e que és adorada por muitos concorrentes, mas este que te fala como gente, sendo sapo verde mas sorridente, deixa-te apenas hoje de presente, a frase que será premente à minha vida daqui para a frente, “Serás para sempre o grande amor da minha vida, e eu amar-te-ei sempre que de ti me lembrar, no meu coração esse amor será alojado, juntamente com o teu sorriso, num lugar muito especial, do qual perderei a chave, a fim de nunca mais voltar a ser ocupado. Espero que sejas sempre, mas sempre, muito feliz, seja comigo, ou seja sem mim…”.”
O pequeno sapo desceu a frágil escada, enxugando com as mãos as lágrimas em bica que lhe escorriam como um rio dos olhos, e olhando uma última vez para a Lua, pareceu-lhe ver uma lágrima de comoção, quiçá de emoção…verdade, ilusão, isso nem eu nem vocês algum dia saberão…
O que é certo, é que o sapo nesse dia, dormiu feliz, porque sendo certo que o amor não tinha, a amada, essa sim existia, e ali sempre estaria, para ser olhada pelo petiz…