Intimidade

Mas qual é o segredo? Pergunta ela em tom quase desperançoso de resposta.
Simples, responde ele com ar altivo. Intimidade, dedicação e confiança.
Hummmm..como assim? Parece mais um claim básico de claque de futebol.
Parecendo ou não, é o meu segredo para essa paciência que recorrentemente questionas, e que eu, não menos vezes, respondo que não é paciência, só parece paciência.
Continuo a questionar! Não é?
Não.
Para mim, estes três, intimidade, dedicação e confiança, são os vetores sagrados, para formar uma combinação ímpar, similar a um sistema de rodas dentadas, que fazem funcionar quase tudo, nunca perdendo a dependência entre elas.
Engenharia a esta hora vai ser difícil. Podes só simplificar?
Eu confio que tudo vai correr bem no processo A, porque me dediquei a estuda-lo, sinto-me parte dele e portanto tenho um elevado grau de confiança sobre o seu resultado.
Certo, mas isso cheira a trabalho. Esse teu método não explica a paciência que tens com algumas pessoas. Comigo por exemplo.
Então não? Repara.
Eu dediquei-me a conhecer-te, ficamos íntimos e agora confio plenamente em ti. Quando as coisas não correm de feição, seja porque razão for, nem sempre imputável a um de nós, eu confio nestes três vetores, e por isso, em vez de perder a paciência, levo a discussão para um campo em que é possível responder.
Mas isso não é só uma forma de autocontrolo? Eu também posso morder a língua e ocorre quase o mesmo efeito.
Talvez, mas se morderes a língua, no dia seguinte só a terás inchada, enquanto eu terei dado mais um passo no sentido de crescermos.
Como assim?
Quando eu opto por não morder a língua e recorrer-me do que te conheço, que tem a ver com a intimidade, conseguida pela dedicação que te dedico e que desemboca na confiança que tenho em ti, acabo quase sempre por encontrar um caminho para nos encontrar-mos e nesse local, seja ele qual for, resolvemos o diferendo.
Mas as pessoas precisam de discutir, gritar, espernear, dizer coisas da boca para fora, que se arrependam mais tarde, para voltarem a trás, pedirem desculpa...essa parte também é uma forma de crescimento.
Concordo, mas estávamos a discutir sobre a forma ou a função?
Claro que um arranca rabo faz sentido. Uma conversa com bastante animosidade e alguma gritaria, até porque na fachada podemos mostrar um ódio incontrolável, uma raiva com espuma nos cantos da boca ou uma perda de razão absurda com gritos tresloucados, mas tudo isto só faz sentido se por trás estiver algo mais, de mais valioso e de verdadeiramente importante, para não ser uma perda de energia vã. E esse algo mais, vem da harmonia e desses três vetores.
É agora que falamos de amor?
Estamos a falar de amor à imenso tempo. De onde é que achas que vem a energia que faz girar as roldanas?
Portanto a tua paciência comigo, vem do amor que sentes por mim?
Não. O meu amor por ti vem daquilo que és e daquilo que me fazes sentir, sendo que parte disto, também está obviamente ligado a paixão, mas isso é outra conversa.
...
Ela- Não há paciência.
Ele - Não percebi.

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